1 de dez. de 2017

Sistema de Anotações da rede speciesLink

splink.cria.org.br

Esse ano, ao divulgar o início da 2ª. fase do projeto do INCT - Herbário Virtual da Flora e dos Fungos, descrevemos brevemente nesse blog a ferramenta de anotações, através da qual qualquer usuário pode enviar seus comentários sobre o registro de um espécime. Esse comentário, além de ser enviado ao curador, responsável pelo acervo, é também armazenado em um banco de dados e aparece como uma anotação associada ao registro. A ferramenta foi desenvolvida em 2012 com recursos do programa Reflora do CNPq, no âmbito do projeto Herbário Virtual da Flora e dos Fungos

Esse post apresenta alguns resultados para demonstrar a sua importância.

Figura 1. Exemplo de um registro de um herbário na rede speciesLink




Ao visualizar o registro o usuário observa que existe um comentário. Ao clicar no registro, o sistema abre o comentário associado ao registro.

Figura 2. Exemplo de um comentário


Esse comentário foi enviado hoje, dia 01 de dezembro de 2017 e indica que a amostra do gênero Diplazium é a espécie Diaplazium cristatum (Desr.) Alston. O sistema mantém o nome do especialista que enviou essa informação, tanto para qualificar a informação como para lhe dar os devidos créditos. 

O gráfico a seguir mostra o crescimento da contribuição voluntária dos usuários da rede speciesLink para melhorar a qualidade dos dados.

Figura 3. Evolução do número de anotações associadas a registros da rede speciesLink
O gráfico mostra o número e o tipo de anotações enviadas por ano, lembrando que os dados de 2017 foram levantados até o dia 29 de novembro. Mesmo assim, 2017 já apresenta um crescimento de 177% em relação a 2016. 
 
93% dos comentários referem-se a registros de plantas e fungos, 6% de animais e 6% de coleções abrangentes. Com a integração da comunidade de botânica, esse resultado já era esperado, mas é importante ressaltar o papel o Herbário Virtual cujo desenvolvimento acaba beneficiando os demais grupos taxonômicos da rede speciesLink.

Em números absolutos, 1.953 registros com anotações, de cerca de 8,9 milhões (número total de registros da rede speciesLink), parece ser insignificante. No entanto, trata-se de um canal de comunicação direta entre o provedor e o usuário dos dados. Com as imagens disponíveis on-line, muitas em alta resolução, o sistema, além da correção de erros, permite a identificação do material à distância. Esses comentários, portanto, são importantes para aproximar os usuários dos provedores e para aumentar a qualidade dos dados.

Para comprovar a importância dessa ferramenta, é interessante observar que a rede mundial GBIF (Global Biodiversity Information Facility) incluiu o desenvolvimento de um sistema de anotações em seu plano de trabalho para 2017-2021. 

Desenvolvida e lançada em 2012, foi e continua sendo algo inovador em sistemas de informação sobre biodiversidade.


19 de out. de 2017

Rede speciesLink - 15 anos de serviços à comunidade





http://splink.cria.org.br
Esse mês comemoramos 15 anos do lançamento da rede speciesLink e aproveitamos a data para documentar um pouco da sua história.

Em 1999, com o lançamento oficial do programa Biota/Fapesp no estado de São Paulo, teve início o desenvolvimento do sistema de informação ambiental do programa, o SinBiota. Esse sistema tinha por objetivo documentar as coletas feitas pelos diversos projetos do programa integradas a uma base cartográfica, e foi desenvolvido pelo CRIA em colaboração com o Instituto Florestal, o Instituto de Computação e o Instituto de Geociências da Unicamp. O primeiro Atlas do SinBiota foi lançado em dezembro de 2000, integrando os dados dos mais de 20 projetos temáticos.

O desenvolvimento do segundo sistema de informação para o programa teve início em 2001 com o projeto "Sistema de Informação Distribuído para Coleções Biológicas: a Integração do Species Analyst e do SinBiota" ou speciesLink. O objetivo era criar um sistema distribuído de informação sobre espécies e espécimes mantidos em coleções biológicas do estado de São Paulo, associado a um sistema de previsão de distribuição geográfica de espécies, baseado em modelagem matemática.

Os grandes desafios incluíam:
  • a promoção de uma mudança cultural visando o compartilhamento aberto dos dados a qualquer pessoa interessada na Internet;
  • a organização e digitação dos acervos das coleções biológicas (fauna, flora, microbiota) do país e do exterior;
  • a necessidade de listas com nomes aceitos e sinonímia da fauna, flora, microbiota e fungos do Brasil;
  • o desenvolvimento de padrões e protocolos para garantir a interoperabilidade dos sistemas; 
  • o desenvolvimento de uma interface de busca eficiente; e,
  • o desenvolvimento de uma arquitetura distribuída que:
    • não fosse impactada pela entrada de novos provedores na rede;
    • trabalhasse com um modelo de dados padrão, sem interferir na escolha do software utilizado pela coleção para gerenciar seus dados;
    • mantivesse no provedor original o controle e a política de compartilhamento de seus dados.
O sistema on-line foi lançado há 15 anos, em outubro de 2002, com dados do Herbário da Unicamp (UEC), da Coleção de Algas (SPF-Algae) do Instituto de Botânica da USP, da Coleção de Ácaros (AcariESALQ) da ESALQ e das Coleções de Peixes da Unesp de São José do Rio Preto (DZSJRP-Pisces) e da USP Ribeirão Preto (LIRP). O apoio da Fapesp ao desenvolvimento específico da rede speciesLink terminou em outubro de 2005 com 40 provedores de dados e pouco mais de 700 mil registros on-line. Neste mesmo ano, o sistema já contava com alguns indicadores que mostravam a evolução da rede.



Distribuição geográfica dos provedores de dados em 2005




Na sequência do projeto speciesLink, a Fapesp apoiou o desenvolvimento do openModeller (outubro de 2005 a outubro de 2008), um ambiente computacional para a geração de modelos de distribuição potencial de espécies (openmodeller.sourceforge.net). Além do CRIA, o desenvolvimento do openModeller contou com a parceria do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e da Escola Politécnica da USP. No âmbito do projeto também foram desenvolvidos vários aplicativos visando auxiliar o trabalho dos curadores na limpeza de seus dados, resultando no relatório dataCleaning. Nesse período, o CRIA também contou com recursos do GBIF (rede de polinizadores, desenvolvimento de ferramentas) e da JRS Foundation.

Em 2006 foi dado início às ações de repatriação de dados de amostras coletadas no Brasil e depositadas nos Jardins Botânicos de Nova Iorque e Missouri. São hoje cerca de 1,5 milhão de registros que representam cerca de 15% dos dados disponíveis na rede speciesLink. A repatriação é fundamental, sendo fonte importante de dados de coletas realizadas nos séculos passados.

Em 2006, por solicitação do Ministério de Ciência e Tecnologia foi publicado o trabalho “Diretrizes e estratégias para a modernização de coleções biológicas brasileiras e a consolidação de sistemas integrados de informação sobre biodiversidade”. Esse trabalho contou com a parceria das Sociedades Brasileiras de Botânica, Zoologia, Microbiologia, da Informação e membros do CRIA, do CGEE e da Secretaria de Política e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCT. Esse fato foi importante não só pela estratégia estabelecida, mas pelo processo de discussão que aproximou a comunidade de coleções biológicas com o CRIA e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, RNP. O CRIA, inclusive, adotou o documento como parte do seu plano estratégico.

Em 2008, a rede SiCol - Sistema de Informação de Coleções de Interesse Biotecnológico foi integrada à rede speciesLink. Com a evolução dos dados da fauna, flora, fungos e da microbiota, 2008 fechou o ano com 150 conjuntos de dados compartilhando cerca de 2,9 milhões de registros. Além dos dados de amostras brasileiras nos Jardins Botânicos de Missouri e Nova Iorque, foram repatriados dados do Museum of Vertebrate Zoology da Universidade da Califórnia, Berkeley. Também foram incorporados os dados sobre a biodiversidade da Amazônia Colombiana da Fundación Puerto Rastrojo.


Distribuição geográfica dos provedores de dados em 2008

Em 2009 teve início o Herbário Virtual da Flora e dosFungos, um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do país. Esse projeto foi um divisor de águas. Foi a partir do INCT-Herbário Virtual que a infraestrutura de dados e ferramentas passou a ser um componente de uma verdadeira rede de pessoas, instituições e sistemas. Passamos – equipe de desenvolvimento, suporte e manutenção do CRIA – a fazer parte de uma grande rede social, que inclui curadores, técnicos, pesquisadores, especialistas em redes (Internet) e usuários, do país e do exterior. A RNP dá suporte ao CRIA, com o acesso à Internet e com a hospedagem dos equipamentos no seu Internet Data Center. O CRIA dá suporte às coleções biológicas na organização e integração de seus dados à rede. As coleções dão suporte aos pesquisadores e alunos, no depósito e registro de novos espécimes. Os pesquisadores, alunos e demais usuários dão suporte a todo o sistema, enviando seus comentários, desenvolvendo modelos e identificando espécies e locais prioritários para coletas.

A rede hoje integra 470 conjuntos de dados: 235 de animais; 195 de algas, fungos e plantas; 3 de fósseis; 34 de microrganismos e 3 de coleções abrangentes (Fonte: Rede speciesLink). Dos 470 conjuntos de dados, 429 são do Brasil e 41 são de dados coletados no Brasil e mantidos em instituições do exterior. São dados de coleções biológicas de 143 instituições do país e 33 do exterior, além de 4 fototecas mantidas por pesquisadores brasileiros. Das 143 instituições brasileiras, contando diferentes campi como instituição, 100 são universidades e o restante instituições de pesquisa. São 52 universidades federais, 8 regionais, 31 estaduais e 9 privadas.

Distribuição geográfica dos provedores de dados em outubro de 2017
Graças aos desenvolvimentos realizados no contexto do INCT-Herbário Virtual, a interface de busca, além da recuperação de dados textuais, oferece ferramentas para a visualização dos dados em mapas, gráficos, listas, planilhas, resumos, estatísticas, além de aplicativos para visualização, análise e comparação de imagens. A rede também disponibiliza uma série de indicadores e ferramentas de análise de lacunas de dados e conhecimento e de distribuição geográfica de espécies. São compartilhados cerca de 8,8 milhões de registros de cerca de 124 mil espécies aceitas distintas e 1,8 milhão de imagens.

Em outubro de 2017 o uso dos dados através da interface de busca já supera os valores de 2016. Já foram utilizados mais de 600 milhões de registros, o que representa uma média de 2 milhões de registros utilizados por dia. Nesse período também foram servidas mais de 2,5 milhões de imagens, cerca de 9 mil imagens visualizadas por dia. 

A rede speciesLink também alimenta o GBIF, SiBBr e iDigBio com cerca de 4,2 milhões de registros de 158 provedores. O uso desses dados servidos através dessas plataformas não é computado nas nossas estatísticas. Também não dispomos de dados sobre o uso das imagens pela Flora do Brasil 2020.

Ao longo de todos estes anos, mesmo com o apoio financeiro recebido através de projetos e a colaboração de todas as pessoas e instituições que participam da rede, não foram poucos os desafios e as dificuldades. Um sistema deste porte requer financiamento contínuo para renovação do hardware, aprimoramento do software, e suporte técnico, sempre através de uma equipe compatível com o trabalho a ser realizado (no CRIA, nos herbários, nos museus, nas coleções biológicas em geral e na RNP), além de verbas para pesquisa, bolsas, etc. (para uma discussão mais aprofundada, sugerimos a leitura do artigo “The Importance of Biodiversity E-infrastructures for Megadiverse Countries”). Para que a rede consiga dar os próximos passos em direção ao futuro, é preciso que haja compreensão quanto ao grau de investimento necessário para manutenção e expansão do sistema, bem como reconhecimento de que sua importância para a sociedade transcende os interesses políticos de algumas instituições e questões pessoais. O CRIA sente-se privilegiado em ter dado a sua contribuição para a construção de um sistema dessa magnitude e continuará trabalhando para que seu futuro seja ainda melhor.


Equipe do CRIA
19 de outubro de 2017