Essa ferramenta tem sido muito utilizada pela comunidade
botânica na definição de estratégias para novas coletas e para priorizar a
digitação de dados nos herbários. A Flora 2020 é um catálogo dinâmico, coordenado
pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sendo atualizado online por
taxonomistas credenciados, enquanto o Catálogo de Abelhas Moure, coordenado
pelo Prof. Gabriel Augusto Rodrigues de Melo da UFPR, é um sistema estático, sendo
atualizado mediante financiado por projetos. A última atualização do Catálogo
de Abelhas Moure foi em 2013, mas está programada uma nova atualização no final
de 2020, graças ao apoio do CNPq e da associação A.B.E.L.H.A.
O Catálogo Moure inclui as espécies de abelhas presentes na
região neotropical, indicando os países onde ocorre. No desenho do sistema lacunas
para abelhas, havia a opção de apenas analisar as espécies com ocorrência no
Brasil no Catálogo Moure ou analisar todas as espécies nele incluídas.
Decidimos incluir na análise todas as espécies presentes no
Catálogo, independente das informações indicarem sua ocorrência no Brasil. Pretendemos
com isso evidenciar as espécies com registros de coletas no Brasil que não têm
essa informação no Catálogo Moure e as que, de acordo com ele ocorrem no
Brasil, mas não têm registro na rede speciesLink.
Trata-se de uma estratégia para buscar acervos que, possivelmente, têm dados
sobre as espécies que comprovadamente ocorrem no Brasil e, evidenciar as
espécies com dados de ocorrência no Brasil para a avaliação dos responsáveis
pela atualização do Catálogo Moure.
As espécies são apresentadas em cores diferentes de acordo
com as informações do Catálogo Moure: as que ocorrem
no Brasil (verde)
e as que não têm evidência de ocorrência no
Brasil no Catálogo Moure (marrom).
Vamos usar como exemplo a tribo Emphorini, que no Catálogo Moure possui 91 espécies.
No relatório Lacunas de julho
de 2019, fazendo uma busca fonética, incluindo sinônimos, e registros com
ou sem coordenadas, o sistema apresenta o seguinte resultado:
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Figura 1. Busca fonética por nomes aceitos e seus sinônimos, sem considerar a coordenada geográfica (Lacunas julho 2019) |
O sistema classifica as espécies em quatro grupos, de acordo
com o número de registros na rede speciesLink:
(1) sem registros; (2) com 1 - 5 registros; (3) com 6 – 20 registros; e, (4)
com mais de 20 registros. Essa classificação procura indicar o potencial uso
dos dados na elaboração de modelos de distribuição geográfica, sendo que o
grupo (2) normalmente produz modelos exploratórios, o (3) modelos preliminares e
o (4) modelos consistentes, normalmente passíveis de serem utilizados para
políticas públicas. É evidente que existem espécies de distribuição restrita
que, com poucos dados podem produzir bons modelos.
Na figura 1, as colunas em marrom representam o número de
espécies que, de acordo com o Catálogo Moure, não têm indicação de ocorrência
do Brasil. O sistema indica
55 espécies sem registros, 3
com 1 a 5 registros, 3 com 6 a 20
registros e 2 com mais de 20 registros
de coletas realizadas no Brasil na rede speciesLink.
Podemos concluir que os responsáveis pelo Catálogo Moure
poderiam avaliar as 8 espécies com registros de coletas no Brasil na rede speciesLink e validar ou não a sua
ocorrência no Brasil nesse catálogo.
Com relação às colunas verdes, indicando as espécies que, de
acordo com o Catálogo Moure, ocorrem no Brasil, existem 12 espécies sem
registros, 6 com 6 a 20 registros e 10 com mais de 20 registros na rede speciesLink. As 12 espécies sem
registros poderiam ser incluídas em estratégias de digitação, inclusão de novos
acervos na rede e/ou coletas dessas espécies.
Clicando na espécie Ptilothrix
heterochroa que não tem nenhum dado de ocorrência no speciesLink, obtemos a seguinte
informação sobre a sua distribuição:
O relatório Lacunas mostra que o Catálogo Moure indica a
ocorrência dessa espécie no estado do Rio Grande do Sul enquanto a rede speciesLink não tem nenhum registro dessa
espécie. As coleções do Rio Grande do Sul poderiam verificar se essa espécie
existe nos seus acervos e priorizar a digitação desses dados para incluí-los na
rede speciesLink, ou essa espécie
poderia ser incluída em uma lista prioritária de espécies a serem coletadas.
Se clicarmos na espécie Diadasina
distincta o sistema mostra ter 59 registros de ocorrência no speciesLink e obtemos a seguinte
informação sobre a sua distribuição:
O relatório Lacunas mostra que o Catálogo Moure não indica a
ocorrência da espécie no Brasil, mas a rede speciesLink
apresenta sua ocorrência em 5 estados. Essa informação pode ser útil para
avaliação dos especialistas responsáveis pela atualização do Catálogo Moure sobre
a sua distribuição geográfica.
Em janeiro de 2020 foi produzido novo relatório do sistema
Lacunas, onde o resultado é comparado com o relatório anterior, talvez tornando
a sua interpretação um pouco mais complexa. Continuando com a análise da tribo Emphorini, o relatório agora apresenta
como resumo o seguinte gráfico:
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Figura 2. Busca fonética por nomes aceitos e seus
sinônimos, sem considerar a coordenada geográfica (Lacunas janeiro 2020) |
O gráfico compara os dados da rede speciesLink de julho de 2019 com janeiro de 2020. As cores mais
claras referem-se às espécies que não têm evidências de ocorrência no Brasil no
Catálogo Moure e as mais escuras são as que, de acordo com esse catálogo,
ocorrem no Brasil.
Comparando as colunas, em janeiro de 2020 temos dados de
ocorrência para 10 espécies sem indicação de ocorrência no Catálogo Moure,
lembrando que em julho de 2019 eram 8. Temos também 11 espécies do grupo que ocorrem no Brasil de acordo com o Catálogo Moure, mas não têm registros na rede
speciesLink. Esse número em julho de
2019 era 12. Comparando os dois relatórios, três espécies passaram a ter dados
na rede speciesLink: Diadasia
willineri (Moure, 1947), Ptilothrix heterochroa Cockerell,
1919, Ptilothrix
scalaris (Holmberg, 1903). Escolhendo como exemplo a espécie
Ptilothrix
scalaris, a rede speciesLink
em janeiro de 2020 registrou 5 registros, 3 de coletas realizadas na Fazenda
Porto Conceição e 2 na Fazenda Pirizal, ambas em Porto Murtinho, Mato Grosso do
Sul. As amostras são mantidas na Coleção de Hymenoptera do Museu de
Biodiversidade da Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, Mato
Grosso do Sul, que atualizou seus dados em agosto de 2019.
Quanto à ocorrência de Ptilothrix heterochroa, são
dois indivíduos coletados na Fazenda São Maximiano em Guaíba, RS, que estão sendo
mantidos na coleção de abelhas MCP-Abelhas da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul. Os dados da Coleção de Abelhas MCP-Abelhas foram
atualizados em novembro de 2019. O Catálogo Moure indica a ocorrência nesse
estado.
Resumindo, o relatório Lacunas mostra a evolução da
completude dos dados da rede speciesLink
vis-a-vis o Catálogo Moure. Esperamos
que esse sistema também possa contribuir para a expansão da informatização e
disponibilização de dados da ocorrência das abelhas no Brasil.