Dora Canhos (CRIA), Sidnei de Souza (CRIA) e Eduardo Almeida (FFCLRP, USP)
Figura 1. EY25663 Rhophitulus pygidialis (Vachal J., 1909) holotype (Fonte: The Hymenoptera collection (HY) (RECOLNAT_MNHN_EY) na rede speciesLink - http://www.splink.org.br, 12/08/2020) |
Em julho de 2019 divulgamos nesse Blog o lançamento de uma nova ferramenta para evidenciar as lacunas de dados e conhecimento das abelhas neotropicais que ocorrem no Brasil. O desenvolvimento desse sistema é um produto do projeto "Consolidação da e-infraestrutura de dados abertos sobre a diversidade das abelhas nativas do Brasil" (Processo: 400580/2018-7), financiado pelo CNPq e pela associação A.B.E.L.H.A. e coordenado pelo Prof. Eduardo Andrade Botelho de Almeida da USP, Ribeirão Preto.
A ferramenta produz relatórios semestrais com o objetivo de acompanhar a evolução qualitativa do projeto. O sistema tem como usos esperados:
- Auxiliar na identificação de abelhas dos grupos taxonômicos pouco estudados e indicar a necessidade de formação de taxonomistas
- Orientar o trabalho de novas coletas, tanto em relação às espécies como também aos estados prioritários
- Auxiliar na identificação de grupos prioritários para digitação ou georreferenciamento dos dados
- Auxiliar na avaliação do status de conservação de espécies.
A presente análise do relatório do sistema Lacunas de conhecimento das abelhas do Brasil compara os resultados produzidos nos meses de julho de 2019, janeiro de 2020 e julho de 2020 usando como critérios de busca:
Opção 1: busca fonética, incluindo sinônimos de todos os registros com ou sem coordenadas geográficas. Essa é a opção mais inclusiva. A opção “fonética com inclusão de sinônimos” consegue recuperar registros com pequenos erros de digitação e com nomenclatura desatualizada. Ao indicar “todos os registros”, a busca não irá considerar se o registro possui ou não coordenada, nem se é consistente.
Opção 2: busca fonética, incluindo sinônimos de todos os registros com coordenadas geográficas consistentes e distintas. Essa opção continua inclusive em relação ao nome da espécie, mas apresenta restrições quanto à coordenada geográfica, exigindo que ela seja consistente e distinta. No entanto não exige a coordenada na origem, ou seja, informada pela coleção e aceita coordenadas atribuídas pela ferramenta de georreferenciamento automático por município.
Resultados
Opção 1. Busca: fonética, incluindo sinônimos, todos os registros
O sistema classifica as espécies de acordo com o número de registros disponíveis online na rede speciesLink. Essa classificação (I) sem registros no speciesLink; (II) com 1 - 5 registros; (III) com 6 – 20 registros; e, (IV) com mais de 20 registros, procura indicar o potencial do uso dos dados disponíveis online na elaboração de modelos de distribuição geográfica exploratórios, preliminares ou consistentes. É evidente que a qualidade do modelo depende não só do número de registros, mas também da espécie em estudo e da precisão das coordenadas, mas dá uma ideia do esforço de coleta.
Adotamos como estratégia incluir todas as espécies citadas no Catálogo Moure, tanto as que têm indicação de ocorrência no Brasil, como as que não têm. Dessa forma o relatório Lacunas pode indicar as espécies que têm amostras coletadas no Brasil, mas que não têm essa informação no Catálogo Moure. É uma oportunidade para que os editores do Catálogo possam validar essa informação.
Nas tabelas 1 e 2 a seguir:
- não Brasil significa espécies que não têm indicação de ocorrência no Brasil no Catálogo de Abelhas Moure, edição de julho de 2012.
- sim Brasil significa espécies que têm indicação de ocorrência no Brasil no Catálogo de Abelhas Moure, edição de julho de 2012.
Tabela 1. Busca: fonética, incluir sinônimos, todos os registros
De acordo com o Catálogo Moure (versão online de julho de 2012), existem 109 espécies dessa subfamília que ocorrem no Brasil. Em um ano de projeto, o número de espécies sem registros na rede speciesLink caiu de 56 para 48, ou seja, de 51% de espécies sem registros em junho de 2019, a rede agora não apresenta dados de ocorrência para 44% das espécies da subfamília Adreninae que ocorrem no Brasil de acordo com o Catálogo Moure. A seguir á apresentada a lista das espécies da subfamília Adreninae que, de acordo com o Catálogo Moure, ocorrem no Brasil e não têm registros na rede speciesLink
O sistema também identificou espécies com registros de ocorrência no Brasil que, segundo os dados do Catálogo Moure, não se distribuem no país. De 10 espécies em julho de 2019 passou a 13 espécies em julho de 2020.
Essas espécies podem representar registros novos para o Brasil (o que é possível, uma vez que os dados de ocorrência no Catálogo Moure são incorporados apenas quando há grande segurança sobre os registros e identidade taxonômica destes), mas podem ser também indicativos de um equívoco de identificação. Em ambos os casos, o Sistema Lacunas mostra-se importante para averiguação futura de informações taxonômicas e distribucionais de táxons.
Opção 2. Busca: fonética, incluir sinônimos, com coordenadas consistentes distintas
Essa busca inclui a análise dos dados geográficos, que, nessa opção de busca avalia somente os registros com coordenadas consistentes distintas. Podemos observar um maior número de espécies sem registros que ocorrem no Brasil, mas no período de um ano do projeto houve uma queda expressiva de 74 espécies (68%) em julho de 2019 para 56 espécies (51%) em julho de 2020.
Tabela 2. Busca: fonética, incluir sinônimos, com coordenadas consistentes distintas
O resultado indica que essa subfamília tem lacunas importantes de dados ou, possívelmente de conhecimento.
Lacunas Geográficas
O sistema também apresenta as lacunas geográficas por estado da União. A busca nesse caso é fonética por nomes aceitos e sinônimos e pelo estado de ocorrência. Ao clicar no estado, o sistema apresenta a lista de espécies sem registros de ocorrência naquele estado.
Figura 2. Lacunas geográficas por estado da União e Distrito Federal (Fonte: Lacunas Moure, julho 2020)
A tabela a seguir compara o número de espécies sem nenhum registro nos estados de ocorrência do Catálogo Moure, nos relatórios de julho de 2019, janeiro de 2019 e julho de 2020
Tabela 3. Comparação do número de espécies com lacunas geográficas por Estado
O relatório mostra que uma espécie deixou de ser lacuna no estado de Minas Gerais (Rhophitulus dubium (Vachal, 1909)), outra espécie para o estado de Santa Catarina (Callonychium petuniae Cure & Wittmann, 1990) e 5 espécies deixaram de ter lacunas no estado do Rio Grande do Sul (Anthrenoides admirabilis Urban, 2005; Anthrenoides francisci Urban, 2008; Anthrenoides gibbosus Urban, 2008; Anthrenoides sulinus Urban, 2008; Rhophitulus hamatus (Schlindwein & Moure, 1998)). Como o Catálogo Moure online ainda não sofreu nenhuma alteração, a redução das lacunas reflete a entrada de novos registros na rede speciesLink. A despeito da redução de sete lacunas de dados de ocorrência em estados brasileiros, resultado do aumento do número de registros compartilhados na rede speciesLink, a Tabela 4 mostra que ainda existem 96 lacunas de dados de ocorrência em estados brasileiros para Andreninae.
Tabela 4. Espécies com lacunas geográficas por Estado
Apesar desse post falar sobre as lacunas de dados das espécies da subfamília Adreninae, é importante destacar que, graças ao apoio do CNPq e da associação A.B.E.L.H.A. e ao trabalha das coleções de abelhas do país e do exterior, a rede speciesLink disponibiliza mais de 13 mil registros dessa subfamília. Assim, fechamos esse post com um mapa com a distribuição geográfica dessas espécies na rede speciesLink.