19 de ago. de 2021

A Coleção de Briófitas do HUNI: beleza em miniatura

 Sandra Zorat Cordeiro, Curadora do HUNI

A Coleção de Briófitas do Herbário Prof. Jorge Pedro Pereira Carauta, o HUNI, começou a ser montada por sugestão e iniciativa do doutorando Erick Alves Pereira Lopes Filho (Museu Nacional/UFRJ), um ativo coletor e colaborador do HUNI, ao perceber que muitas coletas realizadas por alunos, dentro de atividades didáticas da disciplina de Vegetais Criptogâmicos do curso de Ciências Biológicas da UNIRIO, não tinham identificação. A partir do seu contato com o Prof. Dr. Denilson F. Peralta, do Instituto Botânico de São Paulo (IBt), iniciou-se uma intensa permuta de materiais entre o HUNI e o SP (Herbário Maria Eneyda P. K. Fidalgo do IBt). O saldo foi mais que positivo: conseguimos a identificação das nossas amostras pelo Prof. Denilson, recebemos centenas de amostras de vários estados brasileiros (AC, AL, AM, BA, DF, ES, GO, PA, PE, PR, RJ, RO, SP), mais de 70 amostras do Parque Nacional do Caparaó, em Alto Caparaó (MG) e ainda duas amostras internacionais, uma da Finlândia e outra da Polônia. 

Com a chegada ao HUNI, em 2019, de um microscópio estereoscópico (lupa) com câmera fotográfica acoplada, montamos um projeto de captura de imagens da nossa Coleção de Briófitas. Contatando o pessoal do REFLORA, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, descobrimos que precisaríamos, antes das imagens detalhadas obtidas pela lupa, de uma imagem com o aspecto geral da amostra, com foto da etiqueta, escala de tamanho e de cores. E aí, a colaboração do nosso estagiário Matheus Gimenez Guasti, (aluno do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas/UNIRIO) foi fundamental: ele adaptou um antigo arquivo sem uso em um mini estúdio fotográfico e, assim, conseguimos começar a fotografar o aspecto geral das amostras. Ao mesmo tempo, iniciamos a obtenção de imagens das briófitas com a lupa - estava dada a largada para uma das atividades mais prazerosas do herbário: se surpreender com os detalhes de cada amostra. 

O processo de captura de imagens das briófitas, tanto no mini estúdio adaptado como na lupa, estava num ótimo ritmo, mas com a chegada da pandemia, as atividades presenciais foram interrompidas. Até o momento, conseguimos disponibilizar imagens de, aproximadamente, 20% do acervo de briófitas, que contém pouco mais de 300 amostras. As imagens foram inicialmente disponibilizadas online no REFLORA e agora estão acessíveis também através do formulário de busca do speciesLink.

Através da lupa é possível se deslumbrar com a quantidade de detalhes e beleza contidos em cada uma das amostras: filóides minúsculos e brilhantes dispostos num arranjo minucioso, esporófitos com cápsulas e caliptras nos mais incríveis formatos e em diversas fases de amadurecimento - da sua formação até após a liberação dos esporos. É inacreditável a quantidade de informação contida numa pequena amostra de briófita: tanta minúcia e beleza assim tão escondidas dos olhos. 

Desde nosso ingresso na Plataforma speciesLink, o acesso e utilização do nosso acervo vêm alcançando marcas cada vez maiores: de 2018 até agora, já somamos mais de 6,5 milhões de registros utilizados, o equivalente a ter quase todo nosso acervo com cerca de 6500 amostras consultado mais de mil vezes. E isso porque nosso acervo ainda não está digitalizado. O início da disponibilização de imagens da nossa pequena Coleção de Briófitas é a nossa primeira experiência com digitalização de imagens do acervo e ela tem sido gratificante. Esperamos, com o fim da pandemia e a retomada das atividades presenciais, continuar nosso projeto de fotografar esse incrível mundo invisível e disponibilizá-lo para que todos tenham acesso não apenas à informação de qualidade, mas que também possam se encantar com a beleza em miniatura que estas plantinhas escondem.

Deixamos aqui o nosso "muito obrigada" a todos que fazem parte desta história.

Para maiores informações sobre o HUNI e nosso acervo: http://www.unirio.br/ccbs/ibio/herbariohuni

Algumas das imagens obtidas com lupa, e disponíveis nas plataformas speciesLink e REFLORA, a partir de amostras da Coleção de Briófitas do HUNI. 






9 de ago. de 2021

Evolução qualitativa dos dados da subfamília Andreninae

 Dora Ann Lange Canhos (1), Sidnei de Souza (1) e Eduardo Almeida (2)

(1) CRIA, (2) FFCLRP, USP

Em julho de 2021 foi produzido o novo relatório Lacunas de conhecimento das abelhas no Brasil, relatório rodado a cada semestre desde julho de 2019. Portanto, hoje podemos analisar a evolução qualitativa dos dados disponíveis online na rede speciesLink no período de dois anos. Como exemplo iremos analisar a subfamília Andreninae com 483 espécies no Catálogo de Abelhas Moure, sendo que 374 não têm registro de ocorrência no Brasil e 109 espécies têm referências sobre a sua ocorrência no Brasil.

Sempre de acordo com o Catálogo Moure, o relatório analisa dois grupos de espécies: (1) as espécies que não têm registro de ocorrência no Brasil e (2) as espécies que ocorrem no Brasil.

A ideia de incluir a análise de todas as espécies de abelhas, com ou sem registros de ocorrência no Brasil, é permitir uma análise do próprio Catálogo Moure, o que poderá futuramente auxiliar na análise de espécies que poderão ser incorporadas ao catálogo como com ocorrência no Brasil.

Esse post utilizou os critérios mais inclusivos do Lacunas, ou seja, busca fonética por nomes aceitos e seus sinônimos, de registros com ou sem coordenadas geográficas.

I.  Espécies sem registro de ocorrência no Brasil de acordo com o Catálogo Moure

A ferramenta Lacunas, em julho de 2019 encontrou 10 registros desse grupo com ocorrência no Brasil e 12 em 2021. As 12 espécies encontradas no Lacunas de julho de 2021 com coletas no território nacional são:
  • 5 da tribo Calliopsini: Arhysosage flava Moure, 1958 com 2 registros; Calliopsis hondurasica Cockerell, 1949 com 1 registro; Callonychium flaviventre (Friese, 1906); Callonychium mandibulare (Friese, 1916) com 2 registros e Callonychium minutum (Friese, 1906) com 1 registro.
  • 2 da tribo Oxaeini: Oxaea fuscescens Sichel, 1865 com 1 registro e Oxaea stenocoryphe Moure, 1947, com 1 registro.
  • 5 da tribo Protandrenini: Parapsaenythia paspali (Schrottky, 1909), com 2 registros; Parapsaenythia puncticutis (Vachal, 1909), com 5 registros; Psaenythia demissa Holmberg, 1921, com 3 registros; Psaenythia magnifica Holmberg, 1921, com 1 registro; Psaenythia superba Friese, 1908, com 1 registro.
São informações de possível interesse para os especialistas em abelhas, que poderão avaliar se esses dados de ocorrência estão corretos.

II.  Espécies com registros de ocorrência no Brasil de acordo com o Catálogo Moure

Para essa análise foi utilizado o mesmo critério, a busca fonética, por nomes aceitos e seus sinônimos, de registros com ou sem coordenadas geográficas. A tabela a seguir traz a evolução dos dados das espécies desse grupo.


Em julho de 2019 somente 48,6% das espécies da subfamília Andreninae citadas no Catálogo Moure como tendo ocorrência no Brasil, tinham pelo menos um registro na rede speciesLink. Em dois anos esse número evoluiu para 55%, o que representa um aumento importante e significa que 7 novas espécies passaram a ter registros na rede speciesLink.

III.  Lacunas geográficas

Para as espécies que ocorrem no Brasil, o Catálogo Moure também apresenta as lacunas geográficas, indicando as espécies sem registros por estado.

Comparação entre os meses de Julho de 2019 e Julho de 2020 das lacunas geográficas por estado da união e Distrito Federal

O número de espécies sem registros de ocorrência no estado de São Paulo, aumentou de 13 para 14. A espécie Cephalurgus atriventris (Schrottky, 1906)  passou a ser uma lacuna geográfica para o estado na rede speciesLink. No período analisado, os seguintes estados diminuiram o número de espécies sem registros de ocorrência: Goiás, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 

Em julho de 2019 não havia registros para a espécie Oxaea flavescens Klug, 1807 no estado de Goiás, sendo que em julho de 2021 essa lacuna não existe mais. A ocorrência dessa espécie em Goiás está documentada no acervo da Coleção Entomológica da Universidade de Brasília (DZUB) com 41 registros de ocorrência. Nesse período também foram integrados os dados do acervo da Coleção de Hymenoptera do Museu da Biodiversidade (HyMB) da Universidade Federal da Grande Dourados que compartilhou imagens de seu acervo. As imagens a seguir são de dois registros da espécie Oxaea flavescens coletadas em Dourados, MS.

Imagens dos registros Hymb00003-A e Hymb00013-A da Coleção de Hymenoptera do Museu de Biodiversidade da Universidade Federal da Grande Dourados, HyMB

Em julho de 2019 não havia registros para as espécies Anthrenoides meridionalis (Schrottky, 1906) e Rhophitulus dubium (Vachal, 1909) no estado de Minas Gerais. Essa lacuna, em julho de 2021, não existe mais.

A ocorrência da espécie Athrenoides meridionalis em Minas Gerais está documentada no acervo da Coleção Entomológica da Universidade de Brasília (DZUB) com 9 registros de ocorrência. O Museu de História Natural de Paris compartilha um holótipo da espécie Rhophitulus dubium com a rede speciesLink.

Imagem do registro EY25566 (holotipo) do MNHN - Museum national d'Histoire naturelle (2020). The Hymenoptera collection (EY) of the Muséum national d'Histoire naturelle (MNHN - Paris).

Em relação ao estado do Paraná, em julho de 2019 não havia registros para as espécies Anthrenoides rodrigoi Urban, 2005 e Psaenythia quadrifasciata Friese, 1908. No relatório Lacunas de julho de 2021 essas lacunas não existem mais.

A ocorrência da espécie Athrenoides rodrigoi no estado do Paraná está documentada no acervo da Coleção Entomológica da Universidade de Brasília (DZUB) com 2 registros de ocorrência com o mesmo local e data de coleta. A ocorrência da espécie Psaenythia quadrifasciata no estado do Paraná também está documentada no acervo da Coleção Entomológica da Universidade de Brasília (DZUB) com 1 registro de ocorrência.

Havia 10 espécies que, de acordo com o Catálogo Moure, ocorrem no estado de Santa Catarina sem registros de ocorrência na rede speciesLink em julho de 2019. No entanto, a ocorrência da espécie Callonychium petuniae Cure & Wittmann, 1990 hoje está documentada nos acervos da Coleção Entomológica da Universidade de Brasília (DZUB) e na Coleção de Abelhas do Museu de Ciência e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (MCP-Abelhas), ambas com um registro cada.

No Rio Grande do Sul, em julho de 2019 não havia registros para 8 espécies. O relatório Lacunas de julho de 2021 indica que cinco dessas espécies passaram a ter dados online do acervo da Coleção de Abelhas do Museu de Ciência e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (MCP-Abelhas). São elas: 
  • Anthrenoides admirabilis;
  • Anthrenoides francisci;
  • Anthrenoides gibbosus; 
  • Anthrenoides sulinus; e, 
  • Rhophitulus hamatus.
Ao evidenciar as lacunas de dados taxonômicos, geográficos e temporais através da análise dos dados das coleções biológicas integradas à rede speciesLink, espera-se identificar as espécies e estados prioritários para pesquisas e novas coletas, além de incentivar o trabalho das coleções de abelhas do país na digitação e integração de seus dados à rede speciesLink.

Esse trabalho é um produto da Chamada Pública CNPq/MCTIC/IBAMA/Associação ABELHA Nº 32/2017

Linha de Pesquisa: Monitoramento e avaliação da situação das abelhas nativas no Brasil

Instituições parceiras:
  • Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria)
  • Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária: – Embrapa Amazônia Oriental (Pará) e Embrapa Meio Ambiente (São Paulo)
  • Museu Nacional – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
  • Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
  • Universidade de Brasília (UnB)
  • Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
  • Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
  • Universidade Federal do Paraná (UFPR)
  • Universidade de São Paulo (USP)